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Não é estranha nem discreta a minha alergia à arte contemporânea. Simplesmente não a compreendo e, por isso, não a aprecio. E, cada vez mais, essa minha visão se reforça ainda que isso me possa grangear o desprezo dos "agentes culturais" (passe a imodéstia, não seria particularmente perturbador).
Vem isto a propósito de um artigo publicado no suplemento cultural do Expresso, sobre o primeiro filme de Inês Oliveira: Cinerama. Passo a citar:
"Esta conversa é o meu filme, e eu sou o meu filme."
"O filme é político, ou tem uma dimensão política, na medida em que é apolítico (sic). Não vai em nenhuma direcção. Expande, não explode, implode. Não sei qual é a máquina de trabalhao o filme, porque parece que se come a si mesmo."
"O filme pode também afigurar-se um enorme labirinto no qual os espectadores podem circular."
Sejam sinceros: alguém percebeu alguma coisa? Eu não. Quando uma obra de arte, seja ela qual for, necessita de um discurso explicativo ou auto-justificativo deixa de ser arte e passa a ser outra coisa qualquer. A obra de arte não existe pelo artista, existe pelo espectador.
Isto é o que acontece quando os jornalistas não se limitam a papaguear banalidades. Isto é o que acontece quando os actores bem-pensantes de Hollywood são sujeitos ao contraditório.
Se fosse um jornalista português, provavelmente, limitava-se a perguntar se Benicio já tinha estado em Portugal, se tinha gostado da comida e do clima e se sabia algumas palavras em português.
Alguns pequenos comentários:
- Hugh Jackman não ficou atrás de apresentadores de anos anteriores, como Billy Cristal ou Jon Stewart;
- Melhor Actor: é verdade que Sean Penn não foi muito mal em Milk mas, face à concorrência, não era o meu favorito. Mickey Rourke teve um desempenho excepcional (The Wrestler) mas o meu favorito era Frank Langella. A sua interpretação de Nixon foi brilhante, mesmo que um pouco teatral (talvez fruto do seu desempenho nos palcos). Acontece que essa nota de severidade académica lhe confere um certo encanto que, convenhamos, o próprio Nixon possuía;
- Melhor Actriz: ficou bem entregue a Kate Winslet, com um desempenho seguro num papel a pedir Óscar (mulher com passado nazi apaixonada por adolescente). Meryl Streep a picar o ponto, como sempre, também não teria ficado mal com a estatueta. Destaque ainda para Anne Hathaway, a mostrar que não se esgota em comédias românticas.
- Actor Secundário: esperado e, de certa forma, justo. A concorrência apresentava-se com papéis mais discretos e contidos. Apesar de tudo, continuo a preferir o Joker de Jack Nicholson (tem uma maldade mais estriónica que, penso eu, se adequa melhor à personagem);
- Actriz Secundária: num filme em que Woody Allen esteve longe do habitual, Penelope Cruz não me deslumbrou (artisticamente falando...). Houve uma interpretação que me impressionou bastante: Viola Davis, a Mrs Miller em A Dúvida;
- Filme do Ano: A Slumdog Millionaire (Quem quer ser bilionário?) deixo um encolher de ombros. Não é que o fime seja mau. É apenas vulgar: a história já contada mil vezes. O bem vence o mal, o rapaz pobre fica rico (mas não um desses ricos malvados e gananciosos) e vivem felizes para sempre. Além disso, como fez notar Salman Rushdie, o filme está cheio de impossibilidades, muitas delas simplesmente inexplicáveis (como aquela em que, em cenas consecutivas e sem qualquer elemento no enredo que o justifique, as personagens surgem no Taj Mahal, a 1600 km de distância). A este respeito, é de notar que o filme também ganhou o Óscar para melhor argumento adaptado;
- fica um certo sabor a derrota para o casal Pitt-Jolie. A ambos escapou o prémio e O Estranho Caso de Benjamin Button gorou todas as expectativas. Quanto a Angelina: a beleza prejudica-a. Isto é, em qualquer papel que desempenhe nunca nos conseguimos abstrair da actriz, nunca conseguimos ver só a personagem (dá a impressão que estamos a ver Angeline disfarçada de qualquer coisa). Aconteceu com o filme A Troca; debaixo daqueles chapéus e da maquilhagem carregada, só raramente vimos Christine Collins; quase sempre vimos Angelina. É uma coisa que acontece em todos os filmes de Angelina. Além disso, na minha opinião, tem uma representação muito dura, muito maquinal (algo que resulta relativamente bem em Tomb Raider mas não noutros desempenhos). É como se tivesse sempre uma qualquer tensão acumulada nos maxilares, como se escondesse um segredo... Já o mais impressionante no filme de Pitt é a caracterização. De resto, qualquer outro actor poderia desempenhar o papel.
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